A geração de 60 em Portugal

Abstract

Para quem viveu - como será o caso de muitos dos presentes nas jornadas - o "soyons réalistes, demandons l'impossible!"gritado nas barricadas de Paris e que assinala o início da geração de 70, pode parecer abusiva a ideia de mudança... de ruptura, mesmo... que associo à geração de 60, ao longo da minha comunicação. A verdade, no entanto, é que considero a geração de 60, uma geração de descontinuidade: pelos valores culturais, produzidos e consumidos, pelo 'estar' quotidiano, pelos afectos e o modo como viveu e assumiu esses afectos, e, até mesmo, pela forma política que revestiu a sua contestação.Dito de outra forma considero que ela impos ao universo em que cresceu, novos valores morais (liberalização sexual, rejeição de padrões instituídos na família, etc.), novos campos e concepções culturais (legitimação de campos de produção cultural como a banda desenhada ou o jazz; valorização de formas dominadas de cultura; etc.), novos modos de vida (introdução de novos hábitos de lazer; popularização/massificação de certos espectáculos; etc.)... Não quer isto dizer que todos os seus valores tenham sido novos. Nunca acontece isso. Os comos e porquês que caracterizaram a sua intervenção, tiveram um contexto que fixou balizas às mudanças e que interagiu com ela em termos tão mascantes que, na verdade, não é possível perceber a geração de 60 sem partir das condições em que se desenvolveu a geração de 40. Daí, aliás o recuo que faço no tempo, antes de entrar no tema propriamente dito!