Sinalizar ou não, eis a questão: dos factores do caso aos factores do sinalizador

Abstract

O presente trabalho procurou perceber, face a uma situação de mau trato e outra de negligência, quais os factores do caso e do sinalizador que influenciam a percepção de gravidade e a probabilidade de sinalizá-las. Para tal, foram administrados a 208 indivíduos instrumentos relativos à avaliação de situações de abuso, aos valores e atitudes e à caracterização sociodemográfica. Globalmente, os resultados apontam para o facto de o tipo de abuso não influenciar a percepção de gravidade e a probabilidade de sinalizar; a probabilidade de sinalizar estar dependente da percepção de gravidade; e de a percepção de gravidade e a probabilidade de sinalizar estarem associadas aos factores do caso e do sinalizador. Mais especificamente, a percepção de gravidade de um caso de mau trato é influenciada pela idade, sexo e valores conservadores do sinalizador, sendo que a percepção de gravidade de um caso de negligência está associada à idade e etnia da criança, bem como ao sexo, idade, experiência parental e escolaridade do sinalizador. Na probabilidade de sinalizar verifica-se que as situações de mau trato são influenciadas por todas as características da criança, bem como pelo sexo, experiência parental e escolaridade do sinalizador. Nas situações de negligência, a probabilidade de sinalizar é influenciada pela idade e etnia da criança, pelo estatuto socioeconómico da família e pelo sexo do sinalizador. As implicações destes resultados e as próprias limitações do estudo serão apresentadas na conclusão e discussão.

The present work tried to understand, facing one maltreatment situation and one neglect situation, which factors of the case and it respondent influence the judgment of seriousness and the likelihood to report. Therefore, to 208 individuals were administrated instruments relatives to the evaluation of situations of abuse, to the values and attitudes and to the social demographic characterization. Overall, the results point to the fact that: the type of abuse doesn’t influence the judgment of seriousness and the likelihood to report; the judgment of seriousness is dependent on likelihood to report; the judgment of seriousness and the likelihood to report are associated to the factors of the case and it respondent. More specifically, the judgment of seriousness in a case of maltreatment is influenced by the respondent’s age, sex and conservative values. In a case of neglect, the judgment of seriousness is associated to the child’s age and ethnic as well as by the respondent’s sex, age, parental experience and educational level. In likelihood to report we see that the situations of maltreatment are influenced by all children’s characteristics and by the respondent’s sex, parental experience and educational level. In situations of neglect, the likelihood to report is influenced by the child’s age and ethnic, by the family’s social and economical status and by the respondent’s sex. The results’ implications and the study’s own limitations will be presented in discussion and conclusion.