Decrescimento, Democracia e novos territórios: Experimentações para um mundo em transição

Abstract

Vivemos um momento crucial da civilização moderna. A abundância energética que experienciámos desde a revolução industrial permitiu os modelos socio económicos que definem o ocidente moderno, mas criou também os imensos problemas ecológicos com que nos deparamos. Importa colmatar duas grandes falhas na literatura em torno deste problema: questionar a viabilidade de um sistema em que a dependência do crescimento económico exponencial é tão profunda e inescapável quanto a impossibilidade desse mesmo crescimento se perpetuar indefinidamente; E perguntar o que podemos fazer, enquanto comunidades, face a isso. É o que esta tese procura responder, na teoria e na prática. Começa por uma análise macro ao Sistema-Terra (social e biofísico), “afunilando” depois em direção ao território estudado, local, tangível. Utiliza metodologias de investigação-ação, analisa narrativas políticas, e experimenta na prática com novos modelos democráticos e socioeconómicos de gestão coletiva territorial e de empoderamento da cidadania. Escolhe para isto, como caso-prático, uma plataforma cidadã de democracia deliberativa que ousou participar em eleições locais, propondo e debatendo um novo modelo de democracia local. O resultado desta tese é pessimista na crítica, mas otimista na ação: não, o crescimento económico exponencial não é compatível com os limites biofísicos do planeta; e sim, sentiremos em breve os choques sistémicos do embate tectónico entre essas duas realidades inescapáveis (uma biofísica, outra social). Mas, mesmo não havendo muito a fazer para alterar, global, concertada e atempadamente, as grandes orientações geoestratégicas da modernidade, há muito a fazer, enquanto comunidades ou regiões, para enfrentar esses choques de disrupção da normalidade que se avizinham: gestão comunitária, estratégias de empoderamento desde as bases, e criação de novos modelos de produção e administração comunitária e territorial, adaptadas a um mundo em transição.

We are living at a crucial moment in modern civilization. The energy abundance we have experienced since the industrial revolution has enabled the socio-economic models that define modern Western society but has also created the immense ecological problems we now face. It is important to address two major gaps in the literature surrounding this issue: questioning the viability of a system where the dependence on exponential economic growth is as deep-rooted and inescapable as the impossibility of such growth continuing indefinitely; and asking what we can do, as communities, in response. This is what this thesis aims to answer, both in theory and in practice. It begins with a macro analysis of the Earth system (social and biophysical), then "funnels" down to the studied territory, which is local and tangible. It uses action-research methodologies, analyses political narratives, and practically experiments with new democratic and socio-economic models for collective territorial management and citizen empowerment. To this end, it focuses on a citizen platform for deliberative democracy that dared to participate in local elections, proposing and debating a new model of local democracy. The result of this thesis is pessimistic in its critique but optimistic in its action: no, exponential economic growth is not compatible with the planet's biophysical limits; and yes, we will soon feel the systemic shocks of the tectonic collision between these two inescapable realities (one biophysical, the other social). While there may not be much that can be done to change the overarching geostrategic directions of modernity on a global, concerted, and timely basis, there is much that can be done as communities or regions to face these disruptions to normality that are approaching: community management, grassroots empowerment strategies, and the creation of new models of community and territorial production and administration adapted to a world in transition.