Assédio no local de trabalho: Classificações, narrativas e perceções de um fenómeno complexo

Abstract

A presente dissertação explora a complexidade do fenómeno do assédio moral e sexual no local de trabalho, salientando a importância da clareza concetual e da análise sociológica para a compreensão das interações humanas e das práticas sociais. Desta maneira, propõe-se a estudar as perceções e representações sociais e individuais do assédio no local de trabalho, enfatizando a natureza multifacetada deste fenómeno. Com base em vários quadros teóricos, discute os desafios da caracterização do assédio, que muitas vezes carece de uma definição sistemática. Por um lado, são analisadas teorias orientadas à compreensão do assédio sexual, incluindo uma descrição dos modelos natural, organizacional, sociocultural e das repercussões dos papéis sexuais que oferecem diferentes perspetivas sobre a interação entre géneros e poder no ambiente de trabalho. Por outro, o assédio moral é exemplificado e descrito baseando-se em três critérios que permitem identificar as suas dimensões e indicadores, bem como a recorrência do ato e as suas consequências. Esta dissertação resulta de uma investigação intensiva com recurso a entrevistas semidiretivas com vítimas e testemunhas de assédio, cujas narrativas e perceções forneceram os dados qualitativos aqui analisados. Os resultados demonstram dificuldades que os indivíduos enfrentam para reconhecer e confrontar o assédio, destacando como normas sociais e expectativas culturais podem normalizar ou descontextualizar essas experiências. Em última análise, sublinha a necessidade de uma abordagem holística para compreender o assédio em contextos profissionais.

This dissertation explores the complexity of the phenomenon of moral and sexual harassment in the workplace, highlighting the importance of conceptual clarity and sociological analysis for understanding human interactions and social practices. In this way, it sets out to study social and individual perceptions and representations of harassment in the workplace, emphasizing the multifaceted nature of this phenomenon. Based on various theoretical frameworks, it discusses the challenges of characterizing harassment, which often lacks a systematic definition. On the one hand, theories aimed at understanding sexual harassment are analysed, including a description of the natural, organizational, sociocultural and sex role repercussions models, which offer different perspectives on the interaction between genders and power in the workplace. On the other hand, moral harassment is exemplified and described based on three criteria that allow us to identify its dimensions and indicators, as well as the recurrence of the act and its consequences. This dissertation is the result of intensive research using semi-directive interviews with victims and witnesses of harassment, whose narratives and perceptions provided the qualitative data analysed here. The results demonstrate the difficulties individuals face in recognizing and confronting harassment, highlighting how social norms and cultural expectations can normalize or decontextualize these experiences. Ultimately, it underlines the need for a holistic approach to understanding harassment in professional contexts.