Gênero, nacionalidade e etnia no ensino superior português: Vivências plurais da (in)visibilidade das mulheres estudantes brasileiras racializadas

Abstract

A presente dissertação consistiu na compreensão das consequências da invisibilidade enfrentada por mulheres a partir dos eixos sociais de gênero, “raça”/etnia e nacionalidade, utilizando a Interseccionalidade como ferramenta analítica. A partir de uma metodologia qualitativa, realizou-se um estudo, visando analisar as experiências discriminatórias vivenciadas por mulheres estudantes brasileiras não-brancas no ensino superior português. Através da lente interseccional, o estudo promoveu reflexões em torno de como os entrecruzamentos dos marcadores sociais que atravessam estas mulheres as influenciaram em suas vidas acadêmicas. Buscou também saber se se verificou o fenômeno da visibilidade estudado por Kanter (1977, 1993), sobretudo segundo a visão de Laws (1975) e de Lee (2020). O trabalho teve como fundamentação teórica a perspectiva de autoras do feminismo negro, como Crenshaw (1991), Collins e Bilge (2021), Davis (2023) e hooks (2020), permitindo às participantes falarem a partir do “lugar de fala”, termo estudado e cunhado por Ribeiro (2017). Foram realizadas cinco entrevistas individuais semiestruturadas as mulheres negras brasileiras, com idades entre 22 e 39 anos, a frequentar o ensino superior português, sendo licenciadas, mestras e uma doutoranda. Estas representaram uma minoria num ambiente acadêmico majoritariamente ocupado por pessoas brancas, homens e mulheres. Os resultados, obtidos através da análise temática de Braun e Clarke (2006), revelaram três principais temas que mostram que, em geral, as entrevistadas são visíveis devido as suas experiências singulares, em termos de número e representatividade. Concluiu-se que todas as entrevistadas partilharam experiências discriminatórias devido as intersecções das categorias sociais desiguais que as atravessam durante todo o percurso acadêmico.

This dissertation aimed to comprehend the consequences of the invisibility faced by women from the social axes of gender, “race”/ethnicity and nationality, using Intersectionality as an analytical tool. Using a qualitative methodology, a study was carried out to analyse the discriminatory experiences of non-white Brazilian women students in Portuguese higher education. Through an intersectional lens, the study promoted reflections on how the intersections of the social markers that cross these women have influenced them in their academic lives. It also sought to find out whether the phenomenon of visibility studied by Kanter (1977, 1993) was realised, especially according to the vision of Laws (1975) and Lee (2020). The work was theoretically based on the perspective of black feminist authors such as Crenshaw (1991), Collins and Bilge (2021), Davis (2023) and hooks (2020), allowing the participants to speak from their “place of speech”, a term studied and coined by Ribeiro (2017). Five semi-structured individual interviews were carried out with black Brazilian women aged between 22 and 39 attending Portuguese higher education, including bachelors, masters and a doctoral student. They represented a minority in an academic environment mostly occupied by white men and women. The results, obtained using Braun and Clarke's (2006) thematic analysis, revealed three main themes which indicated that, in general, the interviewees are visible due to their unique experiences, in terms of number and representativeness. It was concluded that all the interviewees shared discriminatory experiences due to the intersections of unequal social categories that crossed them throughout their academic career.