Novos desafios do ensino doutoral: Políticas, configurações e percursos entre universidades e empresas

Abstract

O ensino doutoral tem atravessado transformações impulsionadas pela "sociedade do conhecimento". A introdução de colaborações universidade-empresa no ensino doutoral tornou-se desejável e promovida, embora os processos e efeitos envolvidos sejam geralmente desconhecidos. O presente estudo sociológico pretende contribuir para o seu conhecimento, tendo em conta três níveis de análise: o macro, das tendências europeias e especificidades das políticas nacionais; o meso, de práticas de colaboração; e o micro, dos percursos dos doutorandos. Particular atenção é dada às culturas dos dois setores, ao capital social existente e adquirido e ao papel dos doutorandos no processo. A partir da triangulação de instrumentos, os resultados evidenciam que o ensino doutoral, embora com tendências convergentes, reage, a nível nacional, de forma distinta das orientações europeias. O governo português tem atuado como promotor das colaborações, sobretudo a partir do acesso a financiamento, mas com instrumentos que variam em termos de foco e narrativa. A diversidade de modelos de colaboração é moldada, em particular, pelo capital cognitivo e relacional dos académicos. Os doutorandos, incorporando e traduzindo linguagens e lógicas diversas, são impulsionadores dos processos de colaboração e de transferência de conhecimento. Por último, tais contextos de formação e socialização têm influência nas experiências académicas e perceções dos doutorandos, mas sem implicar mudanças abruptas na cultura académica. Os resultados têm implicações significativas para a elaboração ou reconceptualização de políticas, sobretudo em países que se iniciam nestes processos, e em contextos académicos que pretendam potencializar colaborações profícuas para todos os envolvidos, em particular para os doutorandos.

Doctoral education has undergone transformations driven by the "knowledge society". The introduction of university-industry collaborations in doctoral education has become desirable and promoted, although the processes and effects involved are generally unknown. The present sociological study contributes to new knowledge of these, taking into account three levels of analysis: the macro, of European trends and specificities of the national policies; the meso, of collaboration practices; and the individual, of the paths of doctoral students. Particular attention is given to the cultures of the two sectors, to the existing and acquired social capital and to the role of doctoral students in the process. The results show that doctoral education reacts, at national level, differently to European guidelines. The Portuguese government has acted as a promoter of collaborations, mainly through access to funding, but with instruments that vary in terms of focus and narratives. The collaboration models are shaped, in particular, by the cognitive and relational capital of academics. Doctoral students, incorporating and translating different languages and logics, are drivers of collaboration processes and the consequent transfer of knowledge. Finally, such training and socialization contexts have influences on the academic experiences and perceptions of doctoral students, but without implying abrupt changes in academic culture. Such results have significant implications for the elaboration or reconceptualization of policies, especially in countries that are starting in these processes, and in academic contexts that intend to enhance fruitful collaborations for all those involved, in particular for doctoral students.