Representações de género em crianças e jovens: uma análise a partir de um estabelecimento de apoio ao estudo

Abstract

O presente estudo pretende identificar as representações e práticas de género de crianças e jovens, através da aplicação de um inquérito por questionário dirigido a um grupo de 40 crianças entre os oito e os 15 anos de um centro de estudos na região de Odivelas. O trabalho começa por abordar a diferença entre os conceitos de sexo e género, o género, não só como representação social mas como um alvo do biopoder, a socialização de meninos e meninas com base na categorização sexual e a pertinência de se falar destas questões. O inquérito por questionário procurou recolher dados sobre a vida escolar, os interesses dos/das alunos/as, a distribuição familiar das tarefas domésticas e as representações dos jovens sobre os outros e sobre si. A análise dos dados permitiu constatar a reprodução, por parte das crianças e jovens que constituem a amostra, das representações sociais dominantes associadas a cada um dos sexos e dos estereótipos de género. Estas representações, que afetam diferentemente rapazes e raparigas, apresentam-se para ambos os géneros como uma limitação ao desenvolvimento pleno das suas competências físicas, emocionais e intelectuais. No entanto, são também notórios alguns progressos, nomeadamente em termos do reconhecimento da igualdade de género, que embora mais generalizado no caso das raparigas, já se estende maioritariamente aos rapazes. O estudo contribuiu para revelar, uma vez mais, a maior apropriação e reivindicação por parte das raparigas de características, práticas e expetativas tradicionalmente reservadas aos rapazes, do que progressos no sentido oposto.

The present study intends to identify the representations and practices of gender of children and young people through the application of a questionnaire survey directed to a group of 40 children, between the ages of eight and 15 years old, of a study center in the region of Odivelas. The work begins by addressing the difference between the concepts of sex and gender, gender, not only as social representation but as a target of biopower, the socialization of boys and girls based on sexual categorization and the relevance of talking about these issues. The questionnaire survey sought to collect data on school life, the interests of students, the household distribution of chores and the representations of young people about others and about themselves. The analysis of the data showed the reproduction, by the sampled children and youngsters, of the dominant social representations associated with each of the sexes and of the gender stereotypes. These representations, which affect boys and girls differently, are presented for both genders as a limitation to the full development of their physical, emotional and intellectual skills. However, some progress has also been made, notably in terms of the recognition of gender equality, which, although more widespread on girls, already extends to boys. The study has once again revealed the greater ownership and claim by girls of characteristics, practices and expectations traditionally reserved for boys than progress in the opposite direction.