Utilize este identificador para referenciar este registo: http://hdl.handle.net/10071/14557
Autoria: Estanque, Elísio
Data: 1-Jan-2017
Título próprio: Onde pára a classe média? Breves notas sobre o conceito e a realidade portuguesa
Número: 83
Paginação: 37-54
ISSN: 0873-6529
DOI (Digital Object Identifier): 10.7458/SPP2017839971
Palavras-chave: Classe média
Movimentos sociais
Ação coletiva
Middle class
Social movements
Collective action
Classe moyenne
Mouvements sociaux
Action collective
Clase media
Movimientos sociales
Acción colectiva
Resumo: O presente texto centra-se no conceito de classe média e suas implicações sociopolíticas. Tratando-se de um tema que desde há cerca de duzentos anos tem alimentado sucessivas polémicas no campo académico, esta abordagem procura “desconstruir” alguns dos lugares-comuns que ao longo dos tempos envolveram esta categoria, designadamente a conotação com apatia política, individualismo e adesão acrítica ao statu quo “burguês”. O autor recorre a exemplos retirados do recente ciclo de rebeliões sociais induzidas pela crise económica e as políticas de austeridade — em especial os protestos que ocorreram na Europa do Sul e no Brasil —, procurando explorar a hipótese de que o potencial radicalismo e a força transformadora desses movimentos se devem não a um sentido “vanguardista” ou identidade “proletária”, mas antes a uma “pulsão de classe média” que deriva justamente dos valores e estilos de vida incorporados — mas não consolidados — por estes segmentos; ou seja, o descontentamento da classe média (tanto dos setores ascendentes como dos setores em declínio) é resultado de expectativas, ambições e desejos de ascensão social que o atual sistema económico e a classe dirigente “prometeram”, mas que não conseguiram satisfazer, pelo contrário, vendo-se agora ameaçados de empobrecimento. O possível ressurgimento da conflitualidade, seja ela de caráter progressista ou nacionalista e conservadora, passará seguramente pelo protagonismo destas categorias, marcadas pela instabilidade e precariedade do emprego e do modelo social com que um dia sonharam.
The present text focuses on the concept of middle class and its sociopolitical implications. Inasmuch as this is a topic that has been fuelling successive arguments in the academic field for some two hundred years, the author’s approach seeks to “deconstruct” some of the commonplaces that have involved this category over the years — particularly the connotation with political apathy, individualism and uncritical adherence to the “bourgeois” status quo. He takes examples from the recent cycle of social rebellions generated by the economic crisis and austerity policies — especially the protests that took place in Southern Europe and Brazil — to explore the hypothesis that the potential radicalism and transforming force of these movements are due not to a sense of “vanguardism” or “proletarian” identity, but rather to a “middle class initiative” derived precisely from the values and lifestyles incorporated — but not consolidated — by these segments. To put it another way, the discontent of the middle class (both the sectors that are moving upwards and those that are in decline) is a result of expectations, ambitions and desires to climb the social ladder, which the current economic system and governing class “promised”, but were unable to fulfil, with the middle class now threatened with impoverishment instead. The possible resurgence of conflict, be it either progressive or nationalist and conservative in nature, will certainly entail a prominent role on the part of these categories, marked as they are by instability, job precarity and the social model they once dreamed of.
Ce texte est centré sur le concept de classe moyenne et ses implications sociopolitiques, un thème qui n’a cessé d’alimenter diverses polémiques dans le champ académique, depuis près de deux cents ans. Cette approche tente de “ déconstruire ” certains des lieux communs associés à cette catégorie au long des temps, notamment sa connotation avec l’apathie politique, l’individualisme et l’adhésion acritique au statu quo “bourgeois”. L’auteur s’appuie sur des exemples tirés du cycle récent de rébellions sociales suscitées par la crise économique et les politiques d’austérité — en particulier les protestations qui se sont multipliées en Europe du Sud et au Brésil —, afin d’explorer l’hypothèse selon laquelle le radicalisme potentiel et la force transformatrice de ces mouvements sont dus non pas à un élan “ avant-gardiste ” ou à une identité “ prolétarienne ”, mais plutôt à une “ pulsion de classe moyenne” qui dérive justement des valeurs et des styles de vie assimilés — mais non consolidés — par ces segments. Autrement dit, le mécontentement de la classe moyenne (tant des secteurs ascendants que des secteurs en déclin) est le résultat des attentes, des ambitions et des désirs d’ascension sociale que le système économique actuel et la classe dirigeante “ ont promis ” mais n’ont pas réussi à satisfaire. Au contraire, ils se voient aujourd’hui menacés d’appauvrissement. La réapparition possible de la conflictualité, qu’elle soit progressiste ou nationaliste et conservatrice, passera assurément par l’intervention de ces catégories, marquées par l’instabilité et la précarité de l’emploi et du modèle social dont ils ont rêvé un jour.
El presente texto se centra en el concepto de clase media y sus implicaciones sociopolíticas. Tratándose de un tema que desde hace cerca de doscientos años ha alimentado sucesivas polémicas en el campo académico, este abordaje procura “deconstruir” algunos de los lugares comunes que a lo largo de los tiempos envolvieron esta categoría, a saber, la connotación con apatía política, individualismo y adhesión acrítica al statu quo “burgués”. El autor recurre a ejemplos extraídos del reciente ciclo de rebeliones sociales inducidas por la crisis económica y las políticas de austeridad — en especial las protestas que ocurrieron en Europa del Sur y en Brasil —, procurando explorar la hipótesis de que el potencial radicalismo y fuerza transformadora de esos movimientos no se deben a un sentido “vanguardista” o identidad “proletaria”, sino a una “pulsión de clase media” que deriva justamente de los valores y estilos de vida incorporados — pero no consolidados — por estos segmentos; o sea, el descontento de la clase media (tanto los sectores ascendentes como los sectores en declive) es resultado de expectativas, ambiciones y deseos de ascensión social que el actual sistema económico y la clase dirigente “prometieron”, pero que no consiguieron satisfacer, por el contrario, viéndose ahora amenazados por el empobrecimiento. El posible resurgimiento del conflicto, sea este de carácter progresista o nacionalista y conservador, pasará seguramente por el protagonismo de estas categorías, marcadas por la inestabilidad y precariedad del empleo y del modelo social con que un día soñaron.
Arbitragem científica: yes
Acesso: Acesso Aberto
Aparece nas coleções:CIES-RN - Artigos em revistas científicas nacionais com arbitragem científica

Ficheiros deste registo:
Ficheiro Descrição TamanhoFormato 
n83a02.pdf486,58 kBAdobe PDFVer/Abrir


FacebookTwitterDeliciousLinkedInDiggGoogle BookmarksMySpaceOrkut
Formato BibTex mendeley Endnote Logotipo do DeGóis Logotipo do Orcid 

Todos os registos no repositório estão protegidos por leis de copyright, com todos os direitos reservados.