Entre a missão e o bem-estar psicológico: Fatores de stress dos trabalhadores das ONG portuguesas

Abstract

O ambiente de trabalho constitui um fator determinante para o bem-estar psicológico dos trabalhadores, sendo amplamente reconhecido na investigação que diversos fatores de stress relacionados com o trabalho influenciam negativamente a saúde mental dos trabalhadores. Em contextos laborais particularmente exigentes, como o das organizações não-governamentais (ONG), esta questão assume particular relevância. Com base numa abordagem exploratória e a partir da literatura existente sobre o impacto do trabalho nos trabalhadores humanitários, este estudo procura identificar os principais fatores de stress relacionados com o trabalho dos trabalhadores das ONG portuguesas, e compreender quais as estratégias de coping adotadas para gerir essas exigências. Através de um inquérito por questionário (n = 266), os resultados revelam que as exigências emocionais, a carga e ritmo de trabalho, as exigências cognitivas, a fadiga de compaixão pelo contacto direto com os beneficiários e a (ausência de) recompensas são os fatores de stress mais prevalentes entre os trabalhadores das ONG portuguesas. Relativamente às estratégias de coping mais adotadas, verificou-se uma predominância de respostas adaptativas, destacando-se o recurso ao apoio social, a manutenção de uma atitude positiva, o recurso a práticas de autocuidado e atividades de lazer, e a resolução ativa de problemas. Adicionalmente, análises sociodemográficas e ocupacionais evidenciaram diferenças significativas na amostra. Estes resultados sublinham a necessidade das ONG portuguesas implementarem estratégias estruturadas de apoio ao bem-estar psicológico dos seus trabalhadores, adequadas às suas necessidades reais, promovendo a redução do stress ocupacional e, consequentemente, assegurando a sustentabilidade futura do setor das ONG em Portugal.

The work environment is a key determinant of workers’ psychological well-being, and research has consistently shown that various work-related stressors negatively affect workers’ mental health. In highly demanding professional contexts, such as non-governmental organizations (NGOs), this issue is of particular significance. Adopting an exploratory approach and drawing on existing literature on the impact of work on humanitarian workers, this study aims to identify the main work-related stressors among NGO workers in Portugal, and to examine the coping strategies used to deal with these demands. Through a survey questionnaire (n = 266), the results reveal that emotional demands, workload and work pace, cognitive demands, compassion fatigue, and (insufficient) rewards are the most prevalent stressors reported among NGO workers in Portugal. Regarding coping strategies, adaptive responses are predominant, particularly seeking social support, maintaining a positive attitude, engaging in self-care and leisure activities, and active problem-solving. Additionally, sociodemographic and occupational analyses indicate significant differences within the sample. These findings highlight the need for Portuguese NGOs to implement structured strategies to support the psychological well-being of their workers, tailored to their real needs, in order to reduce occupational stress and, consequently, ensure the long-term sustainability of the NGO sector in Portugal.