O Intendente resiste? As múltiplas dimensões da resistência no Largo do Intendente (Lisboa) em gentrificação e turistificação

Abstract

Nos últimos anos o Largo do Intendente e arredores, em Lisboa, vêm passando por uma intensa transformação urbana desencadeada por uma iniciativa de revitalização que inicialmente possibilitou um processo de gentrificação marginal e posteriormente de gentrificação transnacional e turistificação. Além destes processos o Intendente se caracteriza por ser um território complexo, onde dinâmicas como a venda e uso de drogas, trabalho sexual e imigração, existentes desde antes da transformação urbana se entrelaçam com as atuais. Neste contexto de mudança socioespacial objetiva-se compreender se o Largo do Intendente está resistindo à gentrificação e à turistificação e como se constitui esta resistência. Com esse propósito, esta investigação se aproxima da antropologia urbana, para pensar resistência principalmente a partir do território e dos atores que o conformam. Para isso foi desenvolvido um trabalho de campo de caráter etnográfico durante dois anos e meio no local e qual foi complementado com uma série de entrevistas. A partir desta investigação foram identificadas múltiplas dimensões e formas de resistências desempenhadas no cotidiano, desde dinâmicas e usos que continuam a existir, coletivos que ainda se fazem presentes, assim como práticas socioespaciais que desafiam as lógicas da produção do espaço, neste caso, do espaço gentrificado e turistificado. Além disto também foi identificado o desenvolvimento de um processo denominado desapropriação da resistência através do qual diversas iniciativas que podem ser lidas como resistência foram apropriadas pelo discurso turístico enquanto elemento de autenticidade do território, contribuindo para torná-lo ainda mais atrativo.

In recent years, Largo do Intendente and its surroundings in Lisbon have been undergoing intense urban transformation, triggered by a revitalization initiative that initially enabled a process of marginal gentrification and later transnational gentrification and touristification. In addition to these processes, Intendente is characterized by being a complex territory, where dynamics such as drug sales and use, sex work and immigration, which existed before the urban transformation, intertwine with current ones. In this context of socio-spatial change, the aim is to understand whether Largo do Intendente is resisting gentrification and touristification and how this resistance is constituted. To this end, this research approaches urban anthropology, to think about resistance mainly from the perspective of the territory and the actors that shape it. To this end, ethnographic fieldwork was carried out for two and a half years in the area, which was complemented by a series of interviews. This research identified multiple dimensions and forms of resistance carried out in everyday life, from dynamics and uses that continue to exist, collectives that are still present, as well as socio-spatial practices that challenge the logic of space production, in this case, of gentrified and touristified space. In addition, the development of a process called disappropriation of resistance was also identified, through which several initiatives that can be read as resistance were appropriated by the tourist discourse as an element of authenticity of the territory, contributing to making it even more attractive.