Domínio do capital, redes tecnológicas e inovação na política: novos territórios ou a busca por saídas

Abstract

Este ensaio tem por objetivo entender a inovação na política com o advento da Internet a partir dos anos 1990, enfatizando movimentos da sociedade que afetam governos e Estados nas parcerias com o mercado. Assim, questiona se as inovações, como a Internet, podem se tornar retrocessos com sua institucionalização e incorporação pelas dinâmicas políticas inerentes ao capitalismo contemporâneo. Delineiam-se dois eixos. O primeiro remete às tecnologias da Internet a serviço do capital, mostrando seu papel nos processos de globalização, reestruturação produtiva e flexibilização empresarial, que foram acompanhados por uma ocupação social da Internet e dos territórios urbanos. A consequência foi a formação das redes sociais, estruturadas como plataformas digitais, constituindo as maiores empresas do mundo em valor de mercado e uma dominação social e territorial com base na sociabilidade virtual. O segundo eixo destaca a extrema direita global como nova aposta política do capital que, ao se apropriar do repertório digital de protesto nas ruínas do neoliberalismo, passa a ameaçar os processos eleitorais das democracias liberais, com evidências de apoio empresarial, sendo que as plataformas digitais favorecem a proliferação de conteúdos da extrema direita, refletindo uma ameaça aos modos de vida constituídos nos territórios urbanos. Por fim, o artigo reflete sobre saídas ao domínio do capital: seja a contestação partindo dos territórios para que a Internet seja apenas um local de passagem; seja atuar “dentro e contra” na própria Internet, com a criação de ambientes que escapem ao domínio corporativo para chegar aos territórios urbanos.

This essay aims to understand innovation in politics with the advent of the Internet from the 1990s onwards, emphasizing social movements that affect governments and States in partnerships with the market. It questions whether innovations, such as the Internet, can become setbacks with their institutionalization and incorporation by the political dynamics inherent to contemporary capitalism. Two axes are outlined. The first one refers to Internet technologies at the service of capital, showing their role in the processes of globalization, productive restructuring and corporate flexibilization, which were accompanied by a social occupation of the Internet and urban territories. The consequence was the formation of social networks, structured as digital platforms, constituting the largest companies in the world in terms of market value and a social and territorial domination based on virtual sociability. The second axis highlights the global far right as a new political bet of capital that, by appropriating the digital protest repertoire in the ruins of neoliberalism, begins to threaten the electoral processes of liberal democracies, with evidence of corporate support, and digital platforms favor the proliferation of far-right content, reflecting a threat to the ways of life established in urban territories. Finally, the article reflects on ways out of the dominance of capital: whether it be protesting from the territories so that the Internet is merely a place of passage; or acting “within and against” the Internet itself, with the creation of environments that escape corporate domination to reach urban territories..