Um perfil sociopolítico das claques do Sporting Clube de Portugal

Abstract

Os grupos organizados de adeptos, mais conhecidos por claques, são hoje um fenómeno mundial. O que começou na Itália dos anos 60 do século XX, num contexto de grande convulsão social e política, está hoje disperso pelos sete continentes. A política acabou também por moldar a realidade destas coletividades no contexto português, ainda que de modo distinto das congéneres italianas. As claques portuguesas tiveram, ao longo dos anos, uma presença que não passou despercebida à atenção pública, e nem sempre pelos melhores motivos, havendo registo de vários episódios de violência com origem nestes coletivos. A literatura, por sua vez, revela uma presença clara da extrema-direita nas maiores claques portuguesas, onde se incluem as do Sporting Clube de Portugal, a mesma extrema-direita que surge associada, também, a atos violentos. Este é um clube que tem um historial único ao nível do fenómeno dos grupos organizados de adeptos portugueses, pelo simples facto de ter sido nele que se fundou o primeiro deste tipo, no país: a Juventude Leonina. Outras claques acabaram por nascer, sendo atualmente quatro as que o clube tem a apoiar as respetivas equipas, nas várias modalidades desportivas, mas sobretudo no futebol. Nisto, para melhor compreender esta possível correlação entre a violência e a extrema-direita nas claques, e sendo este um fenómeno que extravasa o desporto por si só, envolvendo, nomeadamente, dinheiro público de forma quotidiana, o presente trabalho visou colmatar uma lacuna na literatura, procurando compreender melhor o perfil sociopolítico dos grupos organizados de adeptos portugueses, olhando para o caso concreto de três do Sporting Clube de Portugal, enquanto clube pioneiro deste fenómeno. Os resultados empíricos revelam que a extrema-direita teve, de facto, uma presença assinalável, nestes grupos, mas não em todos, sendo que o fenómeno “política”, nas claques do Sporting, é agora distinto daquilo que foi em tempos.

Organised supporter groups, more commonly known as "ultras," are a worldwide phenomenon. What began in Italy in the 1960s, in a context of significant social and political unrest, has now spread across all seven continents. Politics has also shaped the reality of these groups in the Portuguese context, albeit in a different way to their Italian counterparts. Over the years, Portuguese ultras have attracted public attention, not always for the best reasons, with several incidents of violence being attributed to these groups. The literature, in turn, reveals a clear presence of far-right ideology in the largest Portuguese ultra groups, including those of Sporting Clube de Portugal. The same far-right is also associated with acts of violence. Sporting has a unique history when it comes to the phenomenon of organised supporter groups in Portugal, as it was at this club that the first of its kind, Juventude Leonina, was founded. Other ultra groups have since emerged, and there are currently four supporting the club's teams in various sports, particularly football. To better understand the potential correlation between violence and the far-right in these groups, and recognising that this phenomenon extends beyond sport itself, involving, notably, public funds on a daily basis, this work aimed to fill a gap in the literature by seeking to better comprehend the sociopolitical profile of organised supporter groups in Portugal, focusing on the specific case of three from Sporting Clube de Portugal, as the pioneering club of this phenomenon. The empirical results show that the far-right did indeed have a significant presence in these groups, but not in all of them. Furthermore, the phenomenon of "politics" within Sporting's ultras is now distinct from what it once was.