Trabalho e transformações socioecológicas e tecnológicas nos espaços mangal-arrozal em Mato Farroba, Tombali

Abstract

Em Mato Farroba, no sul da Guiné-Bissau, a produção de arroz de mangal continua a ocupar um lugar central nos modos de vida, organização do trabalho, transmissão de conhecimento e vida ritual. O arroz de mangal é cultivado em zonas costeiras alagadas previamente ocupadas por mangal, onde os camponeses instalam um sistema de gestão de água que permite gerir o nível e escoamento da água, e proteger os arrozais das marés vivas. Este estudo etnográfico incidiu sobre as transformações ecológicas e tecnológicas e a organização social do trabalho no contexto da produção de arroz de mangal em Mato Farroba. Os diques construídos atualmente são de maior dimensão em relação ao passado, o que resulta do aumento gradual do nível da maré viva. A falta de tubos de escoamento adequados às necessidades atuais da gestão da água, a escassez de materiais para a construção do "radi" (arado de mão) e a escassez de força de trabalho jovem são desafios importantes. A integração de várias classes de idade nos grupos de trabalho e o alargamento dos direitos dos homens jovens, anteriormente exclusivos aos homens iniciados, tentam responder à migração de jovens para os centros urbanos. O processo de evangelização recente contribuiu para a fragmentação dos grupos do trabalho e oferece trabalho a custo inferior dos grupos de trabalho tradicionais. A valorização do excedente de arroz pode contribuir para a reconstituição da produção de arroz como uma estratégia de vida apelativa para a juventude.

In Mato Farroba, in the south of Guinea-Bissau, the production of mangrove rice continues to occupy a central place in the ways of life, the organisation of work, the transmission of knowledge and ritual life. Mangrove rice is grown in flooded coastal areas previously occupied by mangroves, where the peasants install a water management system to manage the level and flow of water and protect the rice paddies from high tides. This ethnographic study focused on the ecological and technological transformations and the social organisation of work in the context of mangrove rice production in Mato Farroba. The dykes built today are larger than in the past, as a result of the gradual rise in the level of the high tide. The lack of drainage pipes suited to current water management needs, the scarcity of materials for building the radi (hand plough) and the shortage of young labour are major challenges. The integration of various age groups into working groups and the extension of young men's rights, previously exclusive to initiated men, are an attempt to respond to the migration of young people to urban centres. The recent process of evangelisation has contributed to the fragmentation of labour groups and offers work at a lower cost than traditional labour groups. The valorisation of surplus rice can contribute to the reconstitution of rice production as an appealing life strategy for young people.