"Jair Me Arrependi" e "Tesoureiros": O papel desses perfis digitais ativistas para o sucesso da comunicação da ´Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid´ no Brasil

Abstract

Este trabalho investiga a participação de perfis anônimos no X/Twitter, como @jairmearrependi e @tesoureiros, no contexto da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 no Brasil, em 2021. Em um cenário marcado pela condução controversa da pandemia pelo governo de Jair Bolsonaro, a CPI emergiu como um dos eventos políticos de maior repercussão no país, amplamente acompanhada pela população através das mídias sociais. Neste estudo, buscamos explorar como esses perfis anônimos, que inicialmente atuavam como coletores de informação, evoluíram para se tornar protagonistas no processo de investigação, colaborando diretamente com os trabalhos desta CPI. O objetivo central é demonstrar como o ativismo digital, exercido por estes perfis anônimos, ultrapassou os limites da participação cívico-política tradicional, influenciando diretamente as investigações parlamentares e contribuindo para a construção das acusações contra os membros da então gestão do governo federal. Para tanto, empregamos a análise de conteúdo, utilizando postagens nas redes, entrevistas concedidas por representantes desses perfis, depoimentos de senadores envolvidos na CPI, e materiais de cobertura jornalística. As principais questões abordadas incluem: a forma de atuação desses perfis nos trabalhos da CPI, suas percepções sobre o impacto de suas ações, e os resultados políticos decorrentes de seu ativismo. Este estudo busca categorizar qualitativamente esses resultados e destacar a importância da colaboração entre perfis anônimos e figuras públicas, que se uniram para refutar as narrativas governamentais e promover a busca por responsabilidade e transparência nas ações de autoridades e instituições durante o período da pandemia. Ao contextualizar essas ações dentro da teoria de comunicação em redes sociais e do ativismo digital, este trabalho pretende demonstrar a emergência de uma nova forma de ativismo no Brasil, com implicações significativas para a democracia e o cenário político-midiático atual.

This paper investigates the participation of anonymous profiles on X/Twitter, such as @jairmearrependi and @tesoureiros, in the context of the Parliamentary Commission of Inquiry (CPI) on COVID-19 in Brazil, in 2021. Amid a scenario marked by the controversial handling of the pandemic by Jair Bolsonaro's government, the CPI emerged as one of the most prominent political events in the country, widely followed by the public through social media. In this study, we aim to explore how these anonymous profiles, which initially acted as information gatherers, evolved to become key players in the investigation process, directly collaborating with the work of this CPI. The main objective is to demonstrate how digital activism, exercised by these anonymous profiles, transcended the limits of traditional civic-political participation, directly influencing parliamentary investigations and contributing to the construction of accusations against federal government members at the time. To this end, we employed content analysis, using social media posts, interviews given by representatives of these profiles, testimonies from senators involved in the CPI, and journalistic coverage materials. The main issues addressed include: how these profiles operated in the CPI’s work, their perceptions of the impact of their actions, and the political outcomes resulting from their activism. This study aims to qualitatively categorize these results and highlight the importance of collaboration between anonymous profiles and public figures, who joined forces to refute government narratives and promote the pursuit of accountability and transparency in the actions of authorities and institutions during the pandemic. By contextualizing these actions within the theory of social media communication and digital activism, this paper intends to demonstrate the emergence of a new form of activism in Brazil, with significant implications for democracy and the current political media landscape.