Sobrelotação do serviço de urgência do Hospital Garcia de Orta: Razões, consequências, perfil dos utentes e proposta de soluções

Abstract

A sobrelotação nos Serviços de Urgência Geral (SUG) é um problema global largamente documentado. Não existem estudos em Portugal. Este trabalho tem como principal objetivo estudar as causas e consequências da sobrelotação do SUG do Hospital Garcia de Orta (HGO), bem como analisar em detalhe os pacientes que visitam o SUG de forma inapropriada, os seus motivos e, consequentemente, a elaboração de propostas de solução. Analisaram-se todos os episódios com cor de triagem verde e azul (atribuída pela Triagem de Manchester) que utilizaram o SUG do HGO de 1 de janeiro de 2017 a 31 de dezembro de 2021. Foram inquiridos 520 utentes que visitaram o SUG inapropriadamente, por forma a obter a informação sobre o motivo da procura do SUG em vez do Médico de Família (MF) ou a consulta aberta dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). Foi recolhida a perceção dos profissionais de saúde através de inquérito em suporte digital, tendo sido analisadas as respostas de 96 profissionais acerca do motivo da vinda dos utentes ao SUG de forma inapropriada, das principais causas e consequências da sobrelotação em si. Os resultados evidenciam que 84% dos episódios são por doença, 55% são mulheres, a idade média é de 54 anos, quase metade dos episódios são situações pouco urgentes ou não urgentes. 60% dos utentes não vêm referenciados. Os dois motivos principais de vinda dos utentes ao SU prendem-se com a conveniência do SUG (abertura 24 horas por dia, ausência de necessidade de agendamento e realização no próprio episódio de exames complementares) e observação por um médico especialista. Estes não coincidem com a perspetiva dos profissionais, que consideram como principais causas de sobrelotação do SUG, a dificuldade dos pacientes no acesso aos CSP, a falta de espaço físico no SUG, o número de utentes internados a aguardar vaga para transferência para enfermaria. Os mesmos consideram como principais consequências da sobrelotação, a diminuição da qualidade dos cuidados prestados e das medidas de controlo e prevenção de infeção. Apontam-se a necessidade de referenciação de todos os doentes ao SUG, a aplicação de taxas moderadoras elevadas a quem pretender inscrever-se no SUG sem referenciação, as de Unidades de Fast Track nos SUG e a educação para a saúde a toda a população.

The Emergency Department (ED) overcrowding is widely known globally, documented and studied issue. However, as of yet, none of the studies happened in Portugal. This paper aims to study the causation and the consequences of said overcrowding of the ED, specifically at the Garcia de Orta Hospital (HGO), while also analyzing the implications of patients visiting unnecessarily the ED. Between January 1st 2017 and December 31st 2021, all occasions of green and blue triage were analyzed. 520 individuals who visited the ED inappropriately were surveyed to find out the reason for their choice of visiting the ED instead of booking an appointment with the GP (General Practitioner) of the Primary Care (PC). 96 health professionals were also surveyed in order to obtain their perceptions on their patients’ unnecessary journeys to the ED, mainly to find out the reasoning behind their patients’ choice, abstaining from less straining and time-consuming alternatives. The results have shown that 84% of the episodes are disease related, 55% are women, the average age is 54 years old, almost half of the patients are a low-urgency or non-urgency, 60% of the patients had not been referred to the ED. The two biggest reasons for people to decide to visit the ED instead of waiting for an appointment is the convenience (ED is operational 24/7, there is no booking required and all tests will be done concurrently) and the possibility of being seen by a specialist doctor, although these reasons do not match with the perspective of professionals in the area. In their view, the overcrowding of the ED related to the difficulty of patients getting a GP booking in a timely manner, the absence of adequate GP infrastructure, the number of patients awaiting transfer from admittance to infirmary. It’s also their opinion that these issues cause a decrease in health care and prevention and mitigation of infectious diseases. Some mitigation factors for the overcrowding would be the necessity for a referral for all patients visiting the ED, with high fees for those who choose to bypass the referral process, implementation of Fast Track Units at the ED and welfare education for everyone in the society, including children.