Agir por um bem comum: Lógicas de ação e perceções do ativista ambiental em contexto associativo

Abstract

A defesa do ambiente, da biodiversidade, dos recursos naturais e a questão das alterações climáticas, têm sido mais do que nunca objeto da atenção por parte dos mais diversos quadrantes da sociedade, com claras implicações na ação de determinados grupos de indivíduos. Uma dessas implicações diz respeito à mobilização e participação ativa de indivíduos no chamado movimento ambientalista e ecológico. Por este motivo, a abordagem sociológica é essencial para a análise do movimento ambientalista, o qual visa como qualquer outro movimento social, promover mudanças profundas na sociedade através da ação coletiva. Com o objetivo de identificar e perceber a ação do indivíduo no papel de ativista ambiental, tendo como pano de fundo a sua participação em organizações não governamentais de defesa do ambiente (ONGA), procedemos à realização de uma análise à escala do ator social individual. Para o efeito, optámos por recorrer a um edifício teórico assente numa síntese entre uma perspetiva teórica de tradição disposicionalista, da autoria de Bernard Lahire, e uma outra, desenvolvida por James Jasper, centrada na abordagem cultural à análise dos movimentos sociais, na qual se destaca a influência que as emoções têm no protesto. Para o efeito, foram centrais conceitos como o de disposição, o de emoção e o de papel social. Foram ainda convocadas referências teóricas que permitiram operacionalizar os valores chamados de verdes. Para a recolha dos dados empíricos foram empregues unicamente metodologias qualitativas, com recurso à entrevista centrada na história de vida, aplicada a quatro ativistas ambientais. A partir do material empírico resultante foram construídos quatro retratos sociológicos de ativistas ambientais, que permitiram perceber como é que, em cada um dos diferentes retratos, o social se manifestou ao nível individual, através das múltiplas experiências inscritas em cada biografia, as quais conduziram o ator individual a agir pelo ambiente, através da participação ativa numa ONGA. Os resultados apontam para estarmos perante ativistas, com perfis e histórias de vida muito distintas, que pretendem afastar-se do fundamentalismo e do extremismo com que muitas vezes é identificado o movimento ambientalista. De facto, um ativista identifica-se através do desempenho de um papel social, neste caso, o de ativista ambiental. Trata-se de um ativismo que se reveste de variadas formas de ação, que nem sempre se prendem com o protesto direto, mas que assumem a forma de um compromisso de agir por uma causa, no fundo, pelo bem comum, que é para eles um valor de referência.

The protection of the environment, biodiversity, natural resources and the issue of climate change have been more than ever the object of attention from the most diverse quarters of society, with clear implications for the actions of certain groups of individuals. One of these implications concerns the mobilisation and active participation of individuals in the so-called environmental and ecological movement. For this reason, the sociological approach is essential for the analysis of the environmental movement, which aims, like any other social movement, to promote profound changes in society through collective action. In order to identify and understand the individual's action in the role of environmental activist, against the background of his/her participation in non-governmental environmental protection organisations (ENGOs), we carried out an analysis at the scale of the individual social actor. For this purpose, we chose to use a theoretical construct based on a synthesis between a theoretical perspective from the dispositionalist tradition, authored by Bernard Lahire, and another, developed by James Jasper, centred on the cultural approach to the analysis of social movements, in which the influence that emotions have on protest is highlighted. Central to this were concepts such as mood, emotion and social role. Theoretical references were also called upon to operationalise the so-called green values. Only qualitative methodologies were used to collect empirical data, using life history interviews with four environmental activists. From the resulting empirical material four sociological portraits of environmental activists were constructed, which allowed us to understand how, in each of the different portraits, the social manifested itself at the individual level, through the multiple experiences inscribed in each biography, which led the individual actor to act for the environment, through active participation in an ENGO. The results indicate that we are dealing with activists with very different profiles and life stories, who want to distance themselves from the fundamentalism and extremism with which the environmental movement is often identified. In fact, an activist identifies himself through the performance of a social role, in this case that of environmental activist. It is an activism that takes on various forms of action, which are not always related to direct protest, but take the form of a commitment to act for a cause, basically for the common good, which is a reference value for them.