Género na perspetiva individual: Agência, constrangimentos, recursos e oportunidades

Abstract

A presente pesquisa tem como objetivo compreender a forma como o indivíduo desenvolve e vivencia o seu percurso de vida numa sociedade patriarcal e heteronormativa. Pretende ainda compreender a influência do género nas decisões e ações individuais, mas também nas oportunidades, recursos e constrangimentos que são atribuídos ao indivíduo estruturalmente genderizado. Género é entendido enquanto integrando uma dimensão individual em que o indivíduo é agente do seu género (West & Zimmerman, 1987 e 2009; Butler, 1990), e uma dimensão estrutural, em que o indivíduo se encontra integrado numa sociedade que lhe oferece constrangimentos e possibilidades (Messner, 2000; Martin, 2003; Connell, 2009). Concluiu-se, a partir de 43 entrevistas biográficas, que a influência do género na trajetória de vida do indivíduo começa na infância, com uma vivência mais restritiva e supervisionada nas meninas e uma vivência mais livre e/ou negligente nos meninos. As representações de gênero são diferenciadas, com tendência para uma conceção do feminino fortemente ligada à maternidade e uma conceção do masculino mais vaga e abrangente. Em relação à ação individual, constatou-se que a maioria dos homens e mulheres (menos escolarizadas/os e/ou mais velhas/os) reproduz, reflexivamente ou não, representações, normas e práticas de gênero. Outros indivíduos (mais educadas/os e/ou mais jovens) desenvolvem uma agência que desafia essas representações, normas e práticas de género. Ora com ações mais igualitárias do que o seu contexto social e normativo. Principalmente mulheres mais jovens e escolarizadas. Ora com ações mais essencialistas do que a ordem e regimes de género. Principalmente homens religiosos ou militares.

This research aims to understand the way in which an individual develops and experiences her or his life course in a patriarchal and heteronormative society and the ways in which gender shapes this process. The research intends to understand the influence of gender on individual decisions and actions, but also opportunities, resources and constraints that are assigned to structurally gendered individual. Gender is understood as integrating an individual dimension in which the individual is an agent of their gender (West & Zimmerman, 1987 and 2009; Butler, 1990), and a structural dimension, in which the individual is integrated in a society that offers him constraints and possibilities (Messner, 2000; Martin, 2003; Connell, 2009). It was concluded, from 43 biographical interviews, that the influence of gender on the individual life course starts in childhood, with a more restrictive and supervised experience in females and a freer and/or negligent experience in males. Gender representations are differentiated, with a tendency towards a conception of the feminine strongly linked to motherhood and a more vague and comprehensive conception of the masculine. Regarding individual action, it was found that most men and women (less educated and/or older) reproduce, reflexively or not, gender representations, norms, and practices. Other individuals (more educated and/or younger) develop an agency that challenges these gender representations, norms, and practices. Some with more egalitarian actions than their social and normative context. Mostly younger and more educated women. Some with more essentialist actions than gender order and regimes. Mostly religious or military men.