Qualidade de vida relacionada com a saúde em crianças em acolhimento residencial

Abstract

O acolhimento residencial constitui-se como uma medida alternativa de cuidados para crianças e jovens em perigo e frequentemente utilizada em todo o mundo, incluindo em Portugal. De acordo com anos de investigação, as crianças e jovens em acolhimento residencial apresentam risco acrescido para evidenciarem dificuldades em múltiplos domínios do seu desenvolvimento e saúde. No que concerne a crianças mais novas, esta literatura tem sido sobretudo informada com base no relato dos cuidadores, permanecendo ainda insuficientes os estudos que integram as perceções das crianças. Este estudo exploratório procurou colmatar esta lacuna e analisar as perceções de crianças em acolhimento residencial sobre a sua qualidade de vida relacionada com a saúde. A amostra incluiu 30 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 13 anos: 15 crianças em acolhimento residencial e 15 crianças da comunidade sem histórias de acolhimento. As crianças responderam ao Child Health and Illness Profile (CHIP-CE; Riley et al., 2004, versão Portuguesa de Rodrigues & Apóstolo, 2010) para avaliação da qualidade de vida relacionada com a saúde. Adicionalmente, foi aplicada a prova de vocabulário da Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças, terceira edição (WISC-III; Wechsler, 1991) para avaliação da competência verbal. As crianças em acolhimento residencial apresentaram um desempenho significativamente inferior na prova de vocabulário em comparação com os pares da comunidade. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos na qualidade de vida relacionada com a saúde, mesmo após controlo da competência verbal. Sugere-se que estudos futuros integrem a perspetiva da criança em acolhimento residencial, incluindo das crianças mais novas, com vista a promover estratégias de intervenção desenvolvimentalmente ajustadas.

Residential care is an alternative care measure for children and young people at risk and is frequently used all over the world, including in Portugal. According to years of research, children and young people in residential care present a higher risk of showing multiple difficulties on several areas of their development and health. With regard to younger children, this literature has been mainly informed based on the reports of caregivers, and studies that integrate the children's perceptions remain insufficient. This exploratory study sought to fill this gap and analyze the perceptions of children in residential care about their health-related quality of life. The sample included 30 children aged between 6 and 13 years: 15 children in residential care and 15 never institutionalized children from the community. The children answered the Child Health and Illness Profile (CHIP-CE; Riley et al., 2004, Portuguese version by Rodrigues & Apóstolo, 2010) to assess health-related quality of life. Additionally, the vocabulary test of the Wechsler Intelligence Scale for Children, third edition (WISC-III; Wechsler, 1991) was applied to assess verbal competence. Children in residential care presented a significantly lower performance on the vocabulary test compared to their peers in the community. There were no statistically significant differences between groups in health-related quality of life, even after controlling for verbal competence. We argue that future studies should integrate the perspective of children in residential care, including younger children, aiming to promote developmentally adjusted intervention strategies.