Contactos com a família biológica e o funcionamento emocional e comportamental de crianças em acolhimento residencial: Um estudo exploratório

Abstract

O acolhimento residencial tem vindo a ser associado a dificuldades emocionais e de comportamento em crianças e jovens (e.g., Zeanah et al., 2003). Este estudo pretendeu contribuir para esta literatura, ao explorar as relações entre os contactos com a família biológica e a presença de problemas emocionais e de comportamento em crianças em acolhimento residencial. Adicionalmente, explorou as associações entre aqueles problemas, a exposição a experiências adversas precoces e o tempo em acolhimento. A amostra incluiu 26 crianças, entre os 8 e os 15 anos de idade, em acolhimento residencial, e respetivos cuidadores de referência. Os elementos da equipa técnica das casas de acolhimento preencheram a Ficha de Informação Sociodemográfica e o Perfil de Historial Traumático (Ramos, 2020). Os cuidadores preencheram a versão portuguesa do Questionário de Comportamentos da Criança - CBCL 6-18 (Achenbach & Rescorla, 2001). Quanto aos resultados, não foram observadas associações significativas entre os contactos com a família biológica e os problemas emocionais e de comportamento. Porém, a exposição a mais experiências adversas demonstrou-se positiva e significativamente associada a problemas sociais, de atenção, comportamento agressivo, externalização e total de problemas. Crianças situadas num nível clínico/limítrofe no total de problemas emocionais e de comportamento estiveram significativamente expostas a mais experiências adversas. O tempo em acolhimento não revelou estar significativamente associado a mais problemas emocionais e de comportamento. Estes resultados apontam para os efeitos negativos das experiências adversas precoces no desenvolvimento da criança e do jovem, e alertam para a necessidade de mais investigação sobre o tema.

Residential care has been associated with the presence of more emotional and behavioural difficulties in children (Zeanah et al., 2003). This study aims to contribute to such literature, by exploring the associations between child contacts with the biological family and the presence of emotional and behavioural problems. In addition, this study also aims to explore the associations between child emotional and behavioural difficulties and exposure to early adverse experiences and time in residential care. The sample included 26 children in residential care, between 8 and 15 years of age, and their residential caregivers. Professionals from the residential context completed a Sociodemographic Information Form and the Traumatic History Profile (Ramos, 2020). Caregivers completed the Portuguese version of the Child Behaviour Questionnaire - CBCL 6-18 (Achenbach & Rescorla, 2001). Regarding the results, no significant associations were found between contacts with the biological family and child emotional and behavioural problems. However, exposure to more adverse experiences emerged as positive and significantly associated with social and attention problems, aggressive behaviour, externalizing and total problems. In this study, it was also found that children scoring in the clinical and borderline range in the total problems were exposed to significantly more adverse experiences. No significant associations were found between length of time in residential care and child emotional and behavioural adjustment. These results point to the negative effects of early adverse experiences on child development and highlight the need for more research on the topic.