Autorrepresentações dos transformistas e da cultura queer em Portugal: a receção da mensagem e da condição identitária

Abstract

O conhecimento do mundo em muito se deve à construção mediática da realidade transmitida pelos meios de comunicação social. É graças a estes agentes de socialização que se torna possível construir determinadas realidades que nos são mais distantes social e culturalmente, sem que para isso estejam geograficamente afastadas. A partir dessa representação do mundo social constroem-se opiniões e posições sobre situações ou grupos retratados. Foi a pensar na representação constante que procurámos estudar um grupo específico dotado de diversidade e excentricidade. Para esta investigação foi tida em consideração a forma como esse grupo – os profissionais do espetáculo transformista – recebe as suas representações artísticas e identitárias nos meios de comunicação social, permitindo verificar como a adesão ou a resistência às mensagens é por eles incorporada como um meio de afirmação da sua própria identidade. Os profissionais transformistas que participaram neste estudo apresentaram uma atitude de crítica, resistência e autovitimização face às mensagens veiculadas sobre a sua condição artística e identitária nos meios de comunicação social. O reforço da identidade do grupo – enquanto minoria associada a uma vertente cultural específica – foi acentuado ao considerarem que a visibilidade e cobertura dadas ao transformismo e cultura queer nos media são reduzidas ou até mesmo inexistentes. Para estes artistas, os poucos conteúdos e abordagens nos media nem sempre retrataram corretamente a realidade do transformismo, tendo essas representações mediáticas implicações na forma como são aceites pelo público, que não estaria preparado mentalmente para conhecer esta cultura.

The knowledge of the world has been, for a long time, a mediatic construct of reality broadcasted by social media. It's thanks to these socialization agents that it's possible to build reality’s that are socially and culturally distant, without being geographically separated. From that representation of the social world, opinions and positions are formed on situations or groups portrayed. It was thinking on this constant representation that we sought out to study a specific group endowed with diversity and eccentricity. For this investigation, we considered the way this group - drag queens - perceives its artistic and identity representations in social media, allowing to verity how they resist or agree with the message as a way of affirmation on their own identity. The drag queens that participated in this study presented a critical, resistant and self-victimization attitude over the messages linked to their artistic and identity condition in social media. The strengthening of group identity - as a minority associated to a specific cultural aspect - was accentuated as they considered the visibility and coverage given to drag queens and queer culture in the media is reduced or even non-existent. To these artists, the few articles and approaches in the media don't always correctly portrait the reality of drag queens, having implications in the way they are accepted by the general public, that is not mentally prepared to get to know this culture.