E assim a roda gira: ontologias, natureza e celebração sazonal dos ciclos naturais no contexto dos movimentos neopagãos em Portugal

Abstract

Nas últimas décadas, pode-se observar uma necessidade de retorno à natureza através da experiência da temporalidade, do corpo, e da ligação emocional aos elementos naturais e outros seres vivos. As subsequentes reflexões e discursos sobre um possível término da distinção ontológica que se estabeleceu entre seres humanos e natureza surgem, de modo a que seja criada essa relação. Essa ligação passa pelo respeito e proteção dos ecossistemas, e reconhecimento da agencialidade de outros seres vivos, assim como do seu impacto pessoal nestas realidades. Assim, o Paganismo ou Neo-Paganismo é uma das várias correntes contemporâneas, que através da celebração sazonal dos ciclos naturais, procura o estabelecimento de ligações com o mundo natural. O objetivo central desta dissertação, torna-se assim, elucidar como a celebração e ritualização sazonal dos ciclos festivos e naturais no contexto dos movimentos Neo-Pagãos, se transforma num espaço de criação de relações, sociabilidades e visões do mundo que remetem não só para a procura de relações equilibradas e significativas com o que não é humano, mas também para preocupações morais e éticas de cariz ecológico e sustentável, assim como de ordem epistemológica e ontológica que marcam o momento social e político das sociedades contemporâneas, e consequentemente da reflexão antropológica. Além do mais, através da celebração da natureza, e tendo esta como referência, é possível pensar dimensões como a vida, a morte, o bem e o mal, assim como a fragilidade humana à luz das ligações simbólicas e dos significados que indivíduos retiram nesses momentos rituais.

During the last decades, is possible to map a growing need to return to nature, through the creation of emotional connections with natural elements and other beings, felt through body and time. The number of discourses advocating the end of the ontological distinction between human beings and nature have grown, trying to establish relationships with the wider and natural world. These discourses call for the respect and protection of the ecosystems, and acknowledge that other beings have agency and are sentient, also recognizing the consequences of human’s action in those realities. Paganism or Neopaganism is one of these contemporary discourses, that through the seasonal celebration of the natural cycles, try to establish an emotional relationship with nature. For this reason, the main goal of this thesis is to show, in the context of the Neopagan movements how the celebration and ritualization of the seasonal festive and natural cycles become a space where meaningful relationships with human and non-human beings, sociability’s and worldviews are created. These celebrations are also where neopagans express moral and ethical concerns regarding the ecological problems of the world, as well as epistemological and ontological concerns that define the social and political contemporary moment. Therefore, defining the anthropological thought as well. Through nature’s celebration Pagans establish symbolic connections and ponder about life, death, good and evil, as well as the human fragility, themes that are worrisome to human beings