Inferência e transferência espontânea de traços: o processo e seus limites

Abstract

Um efeito amplamente documentado na literatura diz respeito à Inferência Espontânea de Traço (IET) que consiste numa inferência de traço a partir do comportamento de uma pessoa, traço esse que se assume estar relacionado com o actor do comportamento (Uleman, Newman & Moskowitz, 1996). Esse mesmo traço poderá, no entanto, ser transferido também para outras entidades presentes no contexto do comportamento (Transferência Espontânea de Traço – TET). Esta transferência ocorre quer para pessoas (Carlston, Skworonski e Sparks (1995), quer para objetos inanimados (Brown & Bassili, 2002), símbolos (Carston & Mae, 2007) e mesmo marcas (Ferreira, 2009). O presente estudo procura verificar a ocorrência de TET de pessoas para marcas através da utilização do paradigma do falso reconhecimento (Todorov & Uleman, 2002), adaptado por Clérigo (2013), e perceber o papel que as expectativas de traço associadas às marcas têm neste processo. Desta forma, pretende-se fornecer uma contribuição para perceber qual a natureza das IET e TET e limites à sua ocorrência. Os resultados obtidos indicaram ser possível a ocorrência de TET para marcas. Contudo, na condição em que a expetativa associada à marca é incongruente com o traço a transferir, a TET é inibida. Este estudo tem implicações para a discussão se na base das IET e das TET estão processos associativos ou atribucionais.

An effect widely discussed in literatures documentation says respect to the Spontaneous Trait Inferences (STI) that consists on the inference of a trait from a behavior of someone and that trait is assumed to be connected to the actor of the behavior (Uleman, Newman & Moskowitz, 1996). That same trait may, however, be transferred as well to other entities present in the context of the behavior (Spontaneous Trait Transference – TET). This transfer occurs either for people (Carlston, Skworonski e Sparks (1995), inanimate objects (Brown & Bassili, 2002), symbols (Carston & Mae, 2007) or even brands (Ferreira, 2009). The present study seeks to check if STT occurs from people to brands through the false recognition paradigm (Todorov & Uleman, 2002) adapted by Clérigo (2013), and understand which role the trait expectations associated to the brands have in this process. In this manner, its pretended to contribute to the understanding of the STIs and STTs nature and the limitations to its occurrence. The obtained results showed that it is possible for STTs to occur for brands. Although, in the incongruent trait and brand expectancy condition, STT is inhibited. This study has implications for the discussion if on the basis of STI and STT are associative or attributional processes.