Diagnóstico de riscos psicossociais e intervenção numa indústria transformadora portuguesa

Abstract

O presente trabalho destaca-se por se tratar de um projeto de diagnóstico de necessidades ao nível dos riscos psicossociais e consequente desenho de ações interventivas especificamente delineadas para uma empresa portuguesa na área industrial. Os riscos psicossociais, considerados “emergentes”, são o segundo problema de saúde relacionado com o trabalho mais reportado na Europa com consequências que afetam os trabalhadores e o seu desempenho organizacional. No entanto, a implementação de estratégias de avaliação e gestão do risco é pouco frequente, especialmente devido à falta de sensibilização e de recursos das empresas. Baseado na Análise Ergonómica da Atividade de Trabalho (AEAT), foram adotadas diferentes técnicas de recolha de dados junto dos trabalhadores na fábrica designada, nomeadamente a análise documental de registos internos da empresa, a administração do inquérito INSAT, a realização de sessões de observação sistemática e de focus group. Os dados foram analisados numa matriz integrada, onde se privilegiou a articulação dos mesmos. Foram identificados problemas sobretudo a nível do horário de trabalho por turnos; do controlo sobre a atividade, no que concerne à pouca participação e falta de controlo na tomada de decisão pelos trabalhadores; da cultura organizacional, especialmente quanto às lacunas na comunicação com os superiores; das dificuldades de relacionamento interpessoal, assim como, a fraca qualidade de liderança, falta de suporte social e incertezas acerca do papel desempenhado. Assim, foi proposto um plano de intervenção constituído por quatro fases, iniciando com uma fase de sensibilização dirigida a trabalhadores e chefias, seguida de uma fase de capacitação das lideranças após a qual se passa a uma transformação dos postos de trabalho, culminando em mudanças ao nível das práticas de Gestão de Recursos Humanos (GRH).

The present work stands out because it is a diagnosis of requirements in terms of psychosocial risks and the consequent design of interventional actions outlined specifically for a Portuguese industrial organization. Psychosocial risks, considered "emerging", are the second most reported health problem related to work in Europe with consequences that affect workers and their organizational performance. However, the implementation of assessment and risk management strategies is uncommon, especially due to the lack of awareness and resources in the organizations. Based on the Ergonomic Analysis of Work Activity (EAWA), diferente types of data recovery methodologies were implemented with the workers in the designated factory. These included document analysis of internal organizational records, the implementation of the INSAT survey, the conduction of systematic observation sessions and focus group sessions. The data were analyzed on an integrated matrix, which privileged articulation of information. Essential problems were identified at the level of shift work; control over the activity, regarding the lack of participation and lack of control in decision making by employees; organizational culture, especially poor communication channels with superiors; interpersonal relationship difficulties, as well as poor quality of leadership, lack of social support and uncertainty about the role played. Therefore, an intervention plan was proposed consisting of four phases, starting with an awareness phase for workers and managers, followed by a training phase for managers, the consequent transformation of jobs and lastly changes at the level of Human Resources Management (HRM) practices.