Género e futebol: Dinâmicas entre mulheres e homens num contexto masculino

Abstract

Esta dissertação pretendeu estudar as dinâmicas de género presentes no futebol, um 0contexto masculino em que as mulheres são escassas ("tokens", segundo Kanter, 1977). Numa abordagem qualitativa, realizámos um estudo neste contexto, para corroborar os pressupostos de Kanter (1993), ou seja, verificar se ocorrem os três fenómenos teorizados pela autora em relação às mulheres "tokens": i) a sua elevada visibilidade; ii) a polarização das diferenças por parte do grupo dominante (dos homens); e iii) a assimilação aos papéis estereotípicos do seu grupo de pertença (das mulheres). Através da teoria do "tokenism", numa perspetiva de género, esta dissertação aplicou as conceções de organizações genderizadas de Acker (1990), de sistemas de género de Connell (2002) e da assimetria simbólica de Amâncio (1992, 1994). Foram efetuadas 16 entrevistas semiestruturadas a oito mulheres e oito homens que desempenhavam as mais variadas funções em organizações de futebol. Recorrendo à análise temática de Braun e Clarke (2006), os resultados apontaram que, enquanto tokens, as mulheres estão sujeitas a grande parte das consequências negativas apontadas por Kanter (1977, 1993), nomeadamente: a elevada visibilidade, sentindo pressões para terem um melhor desempenho; a polarização das diferenças entre as mulheres e os homens, por parte destes últimos, que resultou em situações de isolamento, assédio e discriminação; e parte da assimilação. Efetivamente, apesar destas mulheres serem percebidas como figuras maternas e ocorrer paternalismo, também são percebidas como mais racionais e organizadas, optando por seguir mais o modelo masculino, não parecendo, portanto, verificar-se o fenómeno do “aprisionamento de papéis” identificado por Kanter.

This dissertation aimed to study the gender dynamics present in football, a male context in which women are scarce (tokens, according to Kanter, 1977). In a qualitative approach, we carried out a study in this context, to corroborate Kanter's assumptions (1993), and verify if the three phenomena theorized by the author in relation to token women occur: i) high visibility; ii) the polarization of differences by the dominant group (men); and iii) assimilation to the stereotypical roles of the group they belong to (women). Through the theory of tokenism, from a gender perspective, this dissertation applied Acker's (1990) conceptions of gendered organizations, Connell's (2002) gender systems and Amâncio's (1992, 1994) symbolic asymmetry. Sixteen semi-structured interviews were carried out with eight women and eight men who performed the most varied functions in football organizations. Using the thematic analysis of Braun and Clarke (2006), the results showed that, as tokens, women are subject to most of the negative consequences pointed out by Kanter (1977, 1993), namely: high visibility, feeling pressure to have a better performance; the polarization of differences between women and men, by the latter, which resulted in situations of isolation, harassment, and discrimination; and part of assimilation. Effectively, although these women are perceived as maternal figures and paternalism occurs, they are also perceived as more rational and organized, choosing to follow the male model more, therefore, the phenomenon of “role imprisonment” identified by Kanter does not seem occur.